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2.2 Referências de Site Specific

   O termo site specific faz menção a obras criadas para um sítio específico e com um espaço determinado. Trata-se de trabalhos que dialogam com o meio para o qual a obra é elaborada. A noção de site specific sinaliza uma tendência artística da produção contemporânea da pós-modernidade, ou seja, uma arte realizada fora dos espaços tradicionalmente dedicados a ela: museus e galerias.

    O espaço público incorpora e transforma a obra de arte, ou seja, o espaço e a temporalidade da obra é o site specific. Os itens 2.2.1 e 2.2.2 apresentam uma breve análise iconográfica dos artistas Richard Serra e Gordon Matta-Clark. Ambos artistas possibilitam reflexões sobre novos percursos e uma nova percepção do espaço urbano.

2.2.1.1 Richard Serra

    As obras do artista Richard Serra, além de estabelecer relações com seu lugar de implantação, estabelecem também um marco em sua evolução artística que exploram a relação com o ambiente.

   A  polêmica “Tilted Arc”, na Federal Plaza em Nova York, impulsionou ampla reflexão e debate sobre a arte e o espaço público. O projeto segundo Richard Serra tinha como intenção principal trazer o espectador para dentro da escultura, ou seja, o posicionamento da obra transforma o espaço da praça.

“Encontrei um modo de deslocar ou alterar a função decorativa da praça e de fazer as pessoas entrarem no contexto ativo da escultura. Pretendo construir uma obra de aproximadamente 36 metros de comprimento, em um largo semicircular. A escultura vai atravessar o espaço todo, bloqueando a vista da rua para a Courthouse e vice-versa. Terá 3,70m de altura e uma inclinação de 30cm na direção da Courthouse e do Federal Building. Será um arco bastante suave que envolverá com seu volume os transeuntes que caminhem pelo espaço da praça.”

(SERRA, 1980. In: SENIE, 2002, p. 152)

    Porém a escultura foi encarada como uma barreira arquitetônica que destruía a espacialidade e a utilização da praça. A discussão entre a obra Tilted Arc (fig. 05) e o espaço perdurou de 1979, até o desfecho, 10 anos mais tarde, com sua remoção e a declaração de Serra, que “remover a obra é destruir a obra”, marcou esse episódio.

    Serra criou e impulsionou a sua própria linguagem, inovando e criando novas formas. A obra de arte se desloca de contexto, ou seja, não é mais escultura, ela pertence e faz parte do espaço seja ela apropriada ou negada.

Fonte: Photo © 1985 David Aschkenas. Disponível em: http://www.pbs.org/wgbh/cultureshock/flashpoints/visualarts/tiltedarc_a.html. Artigo de Referência: SENIE, H. F. “A polêmica em torno de Tilted Arc: um precedente perigoso? University of Minessota, 2002. Trad. Milton Machado. (p. 148- 166).  Disponível em: http://www.ppgav.eba.ufrj.br/wp-content/uploads/2012/01/ae17_Harriet_Senie.pdf. Visitado dia: 10/10/2016. Imagem: https://drwormhole.files.wordpress.com/2014/03/richard-serratitled-arc-3.jpg

2.2.1.2 Gordon Matta-Clark

    As intervenções urbanas de Gordon Matta-Clark são trabalhos que lidam com a impermanência material, a efemeridade do fenômeno artístico. O artista fazia intervenções em construções por meio de cortes, aberturas e buracos em construções.
    Seu interesse era revelar o espaço negativo das cidades. Tais aberturas criam novos espaços e buscam “ressignificações” em espaços ocupados e não-ocupados, com relações de figura e fundo em espaços abertos e fechados.  
    Segundo Guilherme Wisnik, o artista Gordon Matta-Clark é o artista que mais de perto "dialogou" com a arquitetura, na forma de um afrontamento transformando obras arquitetônicas em objetos "ready-mades" em grande escala.
   Os “Building Cuts”, (fig. 06) cortes em edifícios ou construções abandonadas propôs a desconstrução os espaços da arquitetura moderna encenando intervenções metafóricas em edifícios abandonados ou condenados. O artista, através desses projetos possibilitou uma documentação da memória desses lugares. 

    O artista buscava ocupar espaços vazios e degradados transformando em espaços participativos, não hierárquicos, gerando um circuito alternativo de inserção das práticas consideradas experimentais à época.
    Segundo Wisnik, a ideia de “anarquitetura” e a prática do artista revela o caráter efêmero, precário e inútil da arquitetura, desconstruindo-a como linguagem. Integrante da cena underground e contracultural dos anos 60 e 70, marcada pela desrepressão sexual e existencial e pela vitalidade dos guetos e do nomadismo de rua, Matta-Clark procurou revelar a irracionalidade dos processos urbanos escondidos atrás da aparente disciplina de edificações.
    Matta-Clark liderou um boicote à Bienal de São Paulo em plena ditadura brasileira (1970). Esta arte de guerrilha, que literalmente atravessava o grid urbano, sem dar a mínima para as convenções dos espaços delimitados pela arquitetura. 

    O fragmento acima do fac-símile (fig. 07) de carta de Gordon Matta-Clark sobre a 11ª. Bienal de São Paulo evidencia a preocupação política com a censura estabelecida no regime totalitário da ditadura brasileira na década de 1970. 
    As obras de Matta-Clark foram apresentadas somente 36 anos depois, na 27ª Bienal de São Paulo (2006), a partir do tema "Como Viver Junto" curadoria de Lisette Lagnado e Adriano Pedrosa, apresentando seus conceitos no experimentalismo das obras ambientais de Hélio Oiticica e Matta-Clark, evidenciando a contemporaneidade de seus trabalhos.
    O site specific tem como princípio a ruptura dos paradigmas em relação aos objetos artísticos, a arquitetura e o espaço expositivo e a relação tempo-espaço da obra de arte. 
    As intervenções urbanas são trabalhos que lidam com a “impermanência” material, a efemeridade do fenômeno artístico, onde a própria cidade é entendida como suporte para visualização dos trabalhos.    


 

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-27310/arte-e-arquitetura-building-cuts-gordon-matta-clark/27310_27328

WISNIK, G. “ A "anarquitetura" de Matta-Clark”. Artigo publicado no jornal Folha de São Paulo. Caderno Ilustrada. (23/out/2006). Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2310200611.htm. Visitado em: 10/10/2016.

CLARK, G. M. 1971. Facsímile de Carta de sobre a 11ª. Bienal de São Paulo. Fonte: “27a. Bienal de São Paulo: Como Viver Junto, 2006 (capa)”.

​Figura 5 - Tilted Arc, Richard Serra, 1981, sculpture, steel, New York City (destroyed).

Figura 6 - Gordon Matta Clark. “Building Cuts”

Figura 7 -. Fragmento de fac-símile de carta de Gordon Matta-Clark

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