
ARTEMÍDIA URBANA
Reflexão e Análise Perceptiva da Parada Inglesa
Os mapas compreendidos como formas de expressão e comunicação, serão analisados sob à luz da Teoria da Gestalt (fig. 10 e 11). De um modo geral, de acordo com Rudolf Arnheim em seu livro “Arte e Percepção Visual” (2005), pode-se dizer que a percepção visual não é um processo de associação de elementos soltos, mas um processo integral estruturalmente organizado, por meio do qual as coisas se organizam como unidades ou formas.
Segundo Arnheim (p.10), a linguagem não pode executar a tarefa porque não é via direta para o contato sensório com a realidade, serve apenas para nomear o que vemos, ouvimos e pensamos. Refere-se apenas a experiências perceptivas. A análise perceptiva é muito sutil e pode ir além. Ela aguça a visão para a tarefa de penetrar uma obra de arte até os limites impenetráveis.
A teoria da Gestalt, entendida como experimentos de percepção visual para a configuração ou forma, longe de ser um registro mecânico de elementos sensórios, a visão prova ser uma apreensão verdadeiramente criadora da realidade – imaginativa, inventiva, perspicaz e bela (p.13).
A percepção visual não opera com a fidelidade mecânica de uma câmera que registra imparcialmente. Ver significa captar as características dos objetos. A percepção começa com a captação dos aspectos estruturais mais evidentes. “O ver é compreender”. A configuração perceptiva é o resultado de uma interação entre o objeto físico. Toda experiência visual é inserida num contexto de espaço e tempo (p.36-41).
A Gestalt, a lei básica da percepção visual pode ser definida como: “qualquer padrão de estímulo tende a ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quanto as condições dadas permitem” (Arnheim, p.47) ou seja, a simplicidade objetiva dos objetos visuais foi analisada através de suas propriedades formais.
Os princípios ou leis da Gestalt serão utilizados para tentar organizar elementos visuais pelos parâmetros de: Similaridade, Continuidade, Fechamento, Proximidade, além da Relação de Figura e Fundo e o princípio de “Pràgnanz” e não “Pregnância”, ou seja, as forças de organização da forma, tendem a se dirigir tanto quanto o permitam as condições dadas, no sentido da harmonia e do equilíbrio visual.
Tais “forças de organização da forma” podem ser entendidas por forças de nivelamento e/ou aguçamento. O nivelamento caracteriza-se pelo realce da simetria, redução das características estruturais, repetição, omissão de detalhes não-integrados e eliminação da obliquidade. O aguçamento realça as diferenças e intensifica a obliquidade. Ambas forças criam efeito sobre a dinâmica das tensões.
Com relação a análise de mapas (fig. 12), a leitura será elaborada a partir de vários elementos que estruturam a própria imagem, tais como a sobreposição de elementos, natureza temporal e escalar, antecedentes iconográficos, etc.
A proposta é analisar a cartografia pelo viés perceptivo e visual, propondo a modelações e alterações das imagens com a finalidade de identificar as modificações e a ocupação urbana.
A topologia ou estudos dos espaços topológicos, é o estudo de superfícies não-orientáveis e é considerada uma extensão da geometria. A faixa (ou fita) de Moebius (fig. 13) inspirou o artista holandês Mauritus Cornelis Escher (1898-1972) muito conhecido pelas ilusões de ótica e seus edifícios impossíveis.
3.1 Reflexão Perceptiva do Espaço

Figura 10 - Gestalt




Figura 11 - Escada ou vão da escada?
Fonte: http://www. longleaf.net/ggrow/ simultaneousvisual. html.
Figura 12 - Relação entre cheios e vazios (figura-fundo).
Fonte: NETTO, Vinicius M. “O efeito da arquitetura: impactos sociais, econômicos e ambientais de diferentes configurações de quarteirão. Parma: tecido contínuo da cidade produzida sem um planejamento ‘racional’ [ROWE, Collin; KOETTER, Fred. Ciudad Collage. Barcelona, Gustavo Gili, 1978]. Disponível em: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.079/290 (modificado pela autora)
Figura 13 – Fita de Moebius
Figura 14 - “Relatividade” (1953) Maurits Cornelis Escher (1898-1972)
O artista que mais se dedicou a estes paradoxos de perspectiva foi Escher, elaborando uma intrínseca relação entre arte e arquitetura.
Na ilustração intitulada “Relatividade” (1953), três forças de gravidade estão atuando perpendicularmente uma à outra (fig. 14). Três planos térreos se entrelaçam em ângulos retos, onde homens transitam em cada um deles. É impossível para os habitantes de diferentes mundos transitarem sobre o mesmo cenário, pois eles têm diferentes percepções sobre o que é horizontal e o que é vertical. O contato entre eles é impensável, pois eles vivem em mundos diferentes e, portanto eles não têm conhecimento da existência dos outros.
Esta obra demonstra os princípios da fita de Moebius que tem uma única borda e uma única superfície, porém elabora uma representação infinita.
As cidades narradas por Ítalo Calvino no livro Cidades Invisíveis (1972) misturam experimentações ideativas, construções arquitetônicas, imaginações antropológicas. As cidades se apresentam como num anel de Moebius. Vistas assim parecem ter um único rosto; e, no entanto, são infinitas. Constituem um cânone, uma fuga. Mas também um desenho, uma escultura. (Canevacci, p. 123)
Tais princípios serão utilizados para as análises dos mapas, as relações de topologia e as forças de organização gestálticas da composição visual, com a finalidade de compreender o sentido das imagens, buscando identificar seus principais elementos de composição.
Deste modo, foi elaborada uma análise histórico-perceptiva da cartografia, por meio da sobreposição e criação de Mapas Gestálticos (Demarcações de Áreas, Cheios e Vazios, Preenchimento de Formas e contornos de linhas, relações de Permanência, Nivelamento, Aguçamento e Continuidade) partindo da visão bidimensional de formas lineares à tridimensionalidade da configuração urbana.
Segundo Arnheim (p.99), toda percepção é pensamento, todo o raciocínio é intuição, toda observação é invenção. A experiência visual é dinâmica, ou seja, uma interação das tensões dirigidas. Observar a orientação espacial dos objetos do mundo físico é uma coisa; sua representação num mapa é completamente diferente. Se quisermos representar o espaço sobre uma superfície plana, tudo que podemos esperar fazer é realizar é uma tradução — isto é, apresentar algumas das características estruturais essenciais do conceito visual por recursos bidimensionais.
Como afirma Canevacci: “todo mapa é sempre parcial e simbólico, se não fosse assim, arriscaríamos a cair em graves problemas, não somente lógicos como psicológicos” (p.25)
O mapa das linhas do metrô oferece as informações necessárias com a maior clareza, e ao mesmo tempo agrada aos olhos pela harmonia de seu projeto. Consegue-se isto renunciando-se a todo detalhe geográfico com exceção daqueles aspectos topológicos pertinentes - isto é, a seqüência de paradas e interligações. Todas as vias são reduzidas a linhas retas; todos os ângulos, aos dois mais simples, de noventa e de quarenta e cinco graus. Ou seja, o mapa omite e deforma muito, e por assim fazê-lo é a melhor imagem possível daquilo que quer mostrar. (Arnheim, p. 148).