
ARTEMÍDIA URBANA
Reflexão e Análise Perceptiva da Parada Inglesa
4.5.1 FLANAR na Parada Inglesa
No processo de reconhecimento do lugar na Parada Inglesa, foram utilizadas metodologicamente uma visita e pesquisa em campo sob orientação do Prof. Dr. Pelópidas Cypriano por meio do Flanar, desenvolvida como Atividade Complementar para o Trabalho Equivalente na linha de Processos e Procedimentos Artísticos.
Foram elaborados alguns “mapas mentais” antes do estudo em campo, visando a compreensão da área anterior as experiências com mapas e a produção de imagens mentais, apenas com referências “neutras”.
O material foi arquivado como "estaca zero" (fig. 56), a ele serão incorporados outros desenhos e relatos para no final ser avaliada a transformação do mapa mental de cada um sobre a Parada Inglesa. O orientador plotou 4 ocorrências notáveis no mapa e a equipe saiu para o flanar.
O conceito do Flanar e o Estudo do Meio para reconhecimento da área de estudo na Parada Inglesa (Zona Norte-SP) onde pudemos exercitar a contemplação e estabelecer relações com o lugar (cheiro, barulho, cores, desenhos, massas) e registrar a ocupação do solo (tipologias das casas e verticalização), bem como os vazios urbanos e áreas verdes. O trabalho se configurou metodologicamente por meio de um roteiro, ou seja, um procedimento artístico de intervenções urbanas por meio do flanar. (fig. 57)
O trajeto se iniciou na Rua Tomé Portes, nome de um povoador do século XVIII, atravessamos a avenida Luiz Dumont Villares, conhecida por “avenida nova”, até a Rua Inglesa, nome em homenagem aos ingleses, chegamos à rua do Tramway, configurada num trecho do antigo desenho da antiga linha férrea.
Seguimos até a rotatória onde situava a antiga estação Parada Inglesa (fig. 58). Não há vestígios da antiga estação e subimos a rua Barudene, conhecida antigamente por Albino César, até a Avenida Tucuruvi, antigamente chamada de avenida Pires do Rio, teve seu nome alterado devido à importância da via ao distrito de Tucuruvi. O termo Tucuruvi tem origem tupi-guarani e significa gafanhoto verde, ou também pode significar taquara verde.
Na avenida Tucuruvi, passamos pela Escola Estadual Silva Jardim, inaugurada em 29 de setembro de 1938, pelo foi inaugurado o Grupo Escolar Silva Jardim (fig. 59) em estilo Art Déco (ainda preservado), e fomos em direção à subprefeitura Santana/Tucuruvi (fig. 60), onde situava o antigo Palacete Anglo-Parque, seguimos em direção à Avenida Guapira, passamos por uma sinagoga com janelas em arcos ogivais, bem precária, anteriormente servida de salão de bailes ou o Cine Tucuruvi, datando de 1930 (fig. 61).
Descemos a avenida General Ataliba Leonel, conhecida anteriormente por estrada do Carandiru. O nome do soldado destemido e corajoso, importante para a Revolução Constitucionalista de 1932, foi oficializado em 1955. Ainda conseguimos identificar aspectos das novas edificações e de antigas edificações na mesma paisagem (fig. 62)
A fotografia tem sido utilizada como recurso documental no processo de investigação do cotidiano. As imagens obtidas da cidade e das coisas encontradas por meio do flanar, foram analisadas como "registros da memória” e suas correlações com base na serendipidade.
Segundo Vicente Del Rio, a análise da imagem urbana configura a base mais importante para o desenvolvimento da compreensão do conceito de desenho urbano. O percurso possibilitou um reconhecimento inicial da região estudada pelo olhar contemplativo dos diversos matizes (fig.63).
A imagem captada por uma câmara que se desloca ao longo de uma rua não proporciona a mesma experiência que temos quando nós mesmos caminhamos pela rua. Então, a rua nos rodeia como um vasto ambiente e nossas experiências musculares nos dizem que estamos em movimento. A rua na tela é uma parte relativamente pequena, delimitada, de um cenário mais amplo, na qual o espectador se encontra em repouso. Por isso vê-se a rua em movimento. Parece vir ativamente ao encontro do espectador como também dos personagens do filme, e assume o papel de um ator entre atores. A vida parece um intercâmbio de forças entre o homem e o mundo das coisas, e as coisas amiúde desempenham a parte mais energética. (Arnheim, p. 373).
Na etapa de roteirização, foi possível sintetizar as imagens captadas e sensibilizadas no flanar (fig. 64), com o intuito de produzir um recorte metodológico e experimental das possibilidades e potencialidades do meio ambiente urbano.
Deste modo, pretende-se estudar as relações entre o observador e as imagens públicas, ou seja, imagens mentais comuns de uma cidade, áreas consensuais que possibilitam a interação de uma realidade física.
Foram elaboradas experimentações e intervenções artísticas do flanar na Parada Inglesa, possibilitando assimilar o reencontro das linhas, dos planos, das superfícies e sólidos da paisagem urbana.
A delimitação da área de estudo passou a ser fluida, uma busca arqueológica na caminhada pelas ruas da memória do bairro elaborada por meio da análise histórico-perceptiva de Mapas de imagens e criação de Mapas Gestálticos (Demarcações de Áreas, Cheios e Vazios, Preenchimento de Formas e contornos de linhas, relações de Permanência, Pregnância e Continuidade).
Deste modo, podemos compreender a relação espaço-temporal que durante um acontecimento testemunhamos uma sequência organizada na qual fases seguem-se umas às outras numa ordem significativa unidimensional. (Arnheim, p. 368). Porém, tal ordem e coordenação dos deslocamentos aos vários níveis são permitidos mudar ao acaso e as surpresas das configurações não prescritas constituem o que nos agrada. (Anheim, p. 369).
Figura 56 - Releitura e Mapa Mental “estaca zero” elaborado dia 20/06/2015. O orientador plotou 4 ocorrências notáveis no mapa e a equipe saiu para o flanar.

Fonte: imagem da autora.

Figura 57 -. Roteiro do Flanar / Estudo do Meio no Bairro da Parada Inglesa (Zona Norte – SP). No trecho em destaque foram 3,0 km de caminhada.
Fonte: GoogleMaps
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“O ato de sentir-se perdido permanece em mim,
aberto, em carne viva” (CANEVACCI, p. 25)