
ARTEMÍDIA URBANA
Reflexão e Análise Perceptiva da Parada Inglesa
4.1 Memórias cartográficas de 1924 a 1940
O mapa da cidade de São Paulo de 1924 estão presentes os arrabaldes e terrenos arruados de Santanna e Carandirú, onde podemos destacar a Esatação Parada Ingleza no Tramway Linha de Guapira, a Estação Tucuruvy e a Estrada de Rodagem de São Paulo à Guapira (atual Avenida Guapira).
No mapa não há distinção entre o que está ocupado ou apenas arruado. Podemos observar os loteamentos da Vila Aurora, Água Fria, Vila Cachoeira, Vila Mazzei, Vila Gustavo e Vila Medeiros, todos isolados como retalhos. Com as obras implantadas ao longo da serra, o Tramway que transportava materiais provoca a valorização dos terrenos situados próximos aos seus trilhos, facilitando a ocupação da zona norte da capital e a consequente especulação imobiliária. (Vilar, 2007, p.70).
As linhas delimitam a área estudada. A linha diagonalidade contínua da via férrea surge da região central (inferior esquerda do mapa) com destino às áreas periféricas da região norte da cidade (superior direita). Os efeitos dinâmicos da paisagem são evidenciados pela abertura do Tramway da Cantareira. Os contornos topográficos delimitam numa representação abstrata da profundidade/amplitude altimétrica.
O mapa permite uma análise gestáltica, pela relação de figura-fundo na entre grandes áreas vazias, suas demarcações (loteamentos) e baixa ocupação territorial. A imagem apresenta as delimitações da área de estudo, passando de “não-lugar” para um espaço delimitado “vazio” (fig.23).
Na experiência perceptiva, é possível evidenciar nos mapas um esqueleto estrutural referente, ou seja, relações de equilíbrio analisadas por meio de grids ortogonais, predominante entre os quadrantes M, N e O.
A fazenda Sant'Ana foi desmembrada em outras fazendas, como a Prato D'água, loteada em 1920, formando o leste do Jardim São Paulo e o oeste da Vila Paulicéia e a Parada Inglesa. O loteamento fora efetuado pela Cia. Territorial Sant'Ana, que para urbanizar e tornar atrativa aquela parte da então zona rural, solicitou ao Governo a construção de uma estação no km 6 da linha da Cantareira, cujo ramal de Guarulhos desde 1910 passava pelo meio do pasto da fazenda loteada.
O crescimento da cidade de São Paulo evidencia as características apresentadas no mapa. Entre os loteamentos: Santana, Carandirú, Villa Guilherme, V. Medeiros, V. Gustavo, V. Mazzei, Água Fria e V. Aurora, um grande espaço vazio à espera de valorização territorial para especulação imobiliária.
Na imagem (fig. 24) evidencia a abertura e loteamento da Avenida Mazzei, que se chamava Avenida Amazonas e todas as ruas que a cortavam tinham nome dos rios afluentes ao rio Amazonas. As ruas se iniciavam no Córrego Cabuçu e seguiam até o outro lado finalizando no Córrego Lavrinhas. Algumas ruas permanecem com seus nomes originais até hoje como por exemplo, a Rua Jamundá, Rua Purus, Rua Paru e outras mudaram a pedidos populares de homenagens a pessoas públicas: Rua Conego Ladeira, Claudino Ignacio, até um bandeirante: Bartolomeu de Torales. A rua Ausônia teria sido homenagem a uma região da Itália (em evidência na imagem ao lado direito).
O espaço delimitado (cinza claro da fig. 25), é demarcado pelos novos loteamentos, uma demarcação não precisa, predominante no quadrante N. A área esquerda (cinza) é identificada no mapa como Bairro Villa Paulicéa e à direita pela Villa D. Pedro II, ambos representados no mapa em linhas tracejadas, ou seja, loteamentos em projeto ainda não construídos.
A sobreposição dos mapas (fig. 25), enfatiza a modificação do desenho da linha do Tramway: em 1924 aparece representada com uma linha reta (em branco no mapa) e em 1930 uma linha sinuosa mais próxima ao desenho real do Tramway (em preto no mapa).
Numa análise visual dos modelos em escala, o desenho linear do mapa ferroviário tenta se aproximar do objeto que o representa. Deste modo descobrimos e aceitamos o fato de um objeto visual no papel representa algo completamente diferente do real, desde que nos seja apresentado outro equivalente comparativo (no caso a sobreposição dos mapas de 1924 e 1930). (Arnheim, p.131)
Um importante fator de ocupação e expansão foi o Tramway da Cantareira, o "trenzinho'', como foi conhecido durante muito tempo. A "Cantareira" não fora criada para transporte cotidiano de passageiros, mas, inicialmente (1893) construída para facilitar o contato com o Reservatório de Águas da Serra (fig. 26).
De bitola estreita (60 cm), seu ponto inicial de partida era o Pari, perto do Pátio da S. Paulo Railway e do aterrado do Gasômetro, em virtude de sua finalidade inicial que incluía o transporte de materiais. Só posteriormente teria passado a transporte alguns poucos moradores da zona, ou, eventualmente, passageiros em busca de descanso ou divertimento no subúrbio aprazível da Cantareira. (Torres, 1970, p.112)
Esquematicamente, a estrada era um Y, com vértice no Areal, e galhos da Cantareira e de Guarulhos, medindo, incluindo os ramais, 50 km de extensão. (fig 27). Simples linha de serviço para as obras da captação e adução de água para a Cidade, foi, de fato, o primeiro transporte coletivo da Zona Norte, servindo ainda para o abastecimento do Mercado Municipal, cuja localização exigiu o recuo da estação. Um segundo recuo, desta vez para a rua João Teodoro, foi determinado em virtude do congestionamento da zona, essencialmente atacadista, e do usa crescente de caminhões (Torres, 1979, p.112).
Entre 1930 a 1949, a região norte da cidade de São Paulo passou a ser urbanizada, estimulada fortemente pelo crescimento demográfico. Segundo o senso histórico da prefeitura do município de São Paulo, a população passou de 579.033 habitantes em 1920 para 1.326.261 de habitantes em 1940, ou seja, a população duplicou (um aumento populacional de cerca de 229%).
Na segunda metade do século XX a capital paulista ainda era uma cidade fracionada. Várzeas e vales escavados, e trilhos de estrada de ferro separam trechos edificados. A organização de companhias construtoras irá contribuir para a formação de novos bairros, após a execução de importantes obras de terraplenagem, arruamentos e pavimentação (Torres, 1970, p.93).
O Mapa Topográfico do Município de São Paulo de 1930 em escala 1:5.000 foi produzido pela Società Anonima Rillevamenti Aerofotogrammetrici de Roma (SARA) via o contrato firmado com a PMSP em 14/11/1928.
O mapa (fig. 28) apresenta a representação dos arruamentos, lotes e edifícios, a topografia, com curvas de 5 em 5 metros só aparece com clareza em áreas não urbanas ou não edificadas evidencia a relação figura-fundo numa região em processo de desmembramentos de chácaras em demarcações de lotes, deixando entre si largos espaços vazios.
A bidimensionalidade como sistema de planos é representada na sua forma mais elementar pela relação figura-fundo (Arnheim, p.218). A assimetria visual nos mapas se manifestam numa distribuição desigual de peso e num vetor dinâmico que vai da esquerda inferior para a direita superior do campo visual analisado.
Surgem três linhas importantes: a Estrada da Cantareira, a sinuosa linha férrea e a Estrada do Carandiru. No mapa evidencia a presença dos lotes já preenchidos, ruas delimitam a área estudada entre a Villa Paulicéia e o Bairro do Tucuruvi: o bairro da Parada Inglesa.
Na análise do mapa Sara Brasil de 1930 (fig. 29), evidencia a área de estudo (cinza) a área delimitada pelo Tramway (laranja) e pela a Estrada do Carandiru (atual Avenida General Ataliba Leonel) e orientada pelos caminhos (em amarelo) que saem da região central rumo à expansão da região norte, ao longo dos quais vão surgindo loteamentos no sentido do Bairro do Tucuruvy.
Podemos evidenciar a transformação da paisagem pela ocupação no fechamento/ tamponamento do córrego e a abertura da larga Avenida Cabussú que permanece com um trecho interrompido (não-lugar) dentro da área de estudo (cinza clara).
No mapa de Sara Brasil de 1930 não há menção à estação e ao bairro Parada Inglesa. A região estudada pode ser identificada com a sobreposição do mapa de São Paulo de 1951 (fig.30).
Figura 23 - Mapa do Município de São Paulo mostrando todos os arrabaldes e terrenos arruados (escala 1: 30000), 1924
Fonte: http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1924.jpg (imagem de mapa modificada pela autora).
Figura 25 – Sobreposição dos Mapas de 1924 e Mapa Sara Brasil de 1930
Fonte:http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/img/mapas/1924.jpg http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx
(sobreposição de mapas modificados pela autora).

Figura 26 – O trem da Cantareira na Ponte Grande
Figura 28 - Mapa Sara Brasil, 1930. Mapa topográfico do município de São Paulo. 1:20 000 [Empresa Sara do Brasil, S.A.]
Figura 29 - Mapa Sara Brasil, 1930. Mapa topográfico do município de São Paulo. 1:20 000 [Empresa Sara do Brasil, S.A.]



Figura 27 – Estação Areal (antiga Parada 3). Imagem de 1900.
Fonte: Acervo Tony Belviso. Disponível em: http://www.oocities.org/tramway_cantareira/areal.htm

Fonte: Disponível em: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx
(modificado pela autora).

Fonte: Disponível em: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx

Figura 30 – Sobreposição dos mapas Sara Brasil de 1930 e Mapa de São Paulo de 1951.
Fonte: Disponível em: http://geosampa.prefeitura.sp.gov.br/PaginasPublicas/_SBC.aspx

Figura 24 – Início de loteamento na Vila Mazzei (início da década de 1920)