
ARTEMÍDIA URBANA
Reflexão e Análise Perceptiva da Parada Inglesa
Na era Pós-Moderna, a metrópole passa a ser entendida como um sistema de circuitos de informação e comunicação. A cidade é representativa dos novos valores contemporâneos que refletem uma expressão artística aberta.
Para Walter Benjamin, a arte se encontra ligada às condições econômicas e sociais do contexto em que surgiu e pode desempenhar uma função crítica e inovadora, do mesmo modo que pode ser instrumentalizada. A percepção de Benjamin no contexto urbano evidencia:
Segundo Canevacci (1993, p.103), Benjamin é o primeiro antropólogo “espontâneo” da condição humana. É o narrador de cidades, o cityteller um neologismo em inglês ligado à palavra original (storyteller: contador de histórias). Benjamin demonstra como é possível selecionar alguns dados relativos à percepção, montá-los segundo um encadeamento lógico e realizar assim uma constelação com o senso luminoso do conhecimento.
A teoria “desconstrucionista” é enunciada na sua impostação mais radical, numa estreita conexão entre a linguagem, a cultura e a sociedade. A teoria do conhecimento gira em torno de uma categoria do despertar, apresentando-se como um verdadeiro rito de passagem que deve ser atravessado, ou seja, a construção pressupõe a destruição (Canevacci, 1993, p.106-107).
É neste contexto urbano contemporâneo, que Benjamin propõe a criação de novos objetos de estudos, campos de pesquisa, esferas de interesse que implica, na elaboração de novos métodos. As passages (publicidade), o flanêur, a moda, a fotografia, embora imersos no caráter feitichista peculiar às mercadorias do século XIX, contêm um elemento de redenção, do qual podem ser “despertados” para encontrarem na sociedade sem classes sua realização.
Em contraponto, para Adorno, “a consciência coletiva foi inventada unicamente com a finalidade de afastar a verdadeira objetividade e do seu correlato, ou seja, da subjetividade estranhada”. Por isso, sociedade e indivíduo devem se polarizar e dissolver a falsa identidade no “coletivo sonhador”. (In: Canevacci, p. 108-112)
Para Canevacci, a sensibilidade de Walter Benjamin – que submete empaticamente à análise os níveis mais contemporâneos da comunicação visual e urbana (cinema, foto, panoramas) e não somente do ponto de vista unilateral do domínio ou do pesadelo – seja mais utilizável atualmente do que a rigorosa dialética negativa com a qual Adorno via os resultados desastrosos da cultura de massas do seu tempo (p.112).
Sobre os olhares e as caminhadas evidencia-se as possibilidades cognitivas do flanar (fig.03), Canevacci define por uma seleção qualitativa de locais escolhidos, através de um resultado “sujo”, de misturas imprevisíveis e casuais entre os níveis racionais, perceptivos e emotivos.
2.1. Percepção Pós-Moderna na Cidade
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Figura 3 - Reflexões sobre o Flanar.
Fonte: Foto da autora.
Foi feita uma resenha do livro “O Flâneur” de Edmund White por meio do template sugerido pelo orientador.
A cidade é compreendida como um organismo subjetivo que inventa valores e modelos de comportamentos estruturados por uma linguagem própria, baseada em intervalos delimitados pela ação dos indivíduos que habitam o espaço urbano.
O pluralismo pós-moderno da cidade incontrolável, de situações “abertas” passam a ser compreendidas pela ótica de filósofos como Foulcault postula as teorias da catástrofe, do caos e geometria fractal, sendo a descontinuidade a base para a estrutura do pensamento pós-moderno, a “proliferação, justaposição e disjunção” e a pluralidade e as qualidades abertas do discurso (fig. 04).


Figura 4 – Mapa de Amsterdam em uma folha
A cidade polifônica de vários itinerários musicais ou materiais sonoros se cruzam, se encontram e se fundem, obtendo harmonias elevadas ou dissonâncias através de suas respectivas linhas melódicas. Significa que a cidade em geral e a comunicação urbana em particular comparam-se a um coro que canta com uma multiplicidade de vozes autônomas que se cruzam, relacionam-se, sobrepõem-se umas às outras, isolam-se ou se contrastam; e também designa uma determinada escolha metodológica de “dar voz a muitas vozes”, experimentando assim um enfoque polifônico com o qual se pode representar o mesmo objeto – justamente a comunicação urbana. A polifonia está no objeto e no método. (Canevacci, p. 15-18).
A metodologia aplicada entre seus vários níveis e linguagens possíveis de abordagem por meio do flanar, conforme Canevacci, possibilita estar próximo do múltiplo, confuso e sobreposto complexos de tráfegos-miasmas-engarrafamentos que desencadeiam e se alastram nos circuitos metropolitanos, movimentando nos territórios de abstração como máxima internidade e máxima distância. (p.20)
Segundo Zamboni (p. 44), o processo de trabalho, principalmente na pesquisa artística, é permeado por inúmeros fatores não racionais e não controlados pelo intelecto do artista, e, portanto, pode necessitar de caminhos menos diretos para que se dê a maturação necessária das soluções objetivadas pelo artista.
O processo de trabalho em arte, segundo Zamboni (p.56), não é algo linear, é um processo de idas e vindas, de intuição e de racionalidade que se interpõem no caminho da reconstrução representativa de uma realidade. É uma etapa eminentemente criativa, e que dá forma material e organizada a uma série de ideias e fatos coletados de uma determinada realidade.

“Não saber se orientar numa cidade não significa muito. Perder-se
nela, porém, como a gente se perde numa floresta é coisa que se
deve aprender a fazer” (BENJAMIN, 1971, p.76).

“O termo flâneur vem do francês e tem o significado de
"vagabundo", "vadio", " preguiçoso", que por sua vez
vem do verbo francês flâner, que significa "para passear".
Charles Baudelaire desenvolveu um significado para flâneur
de "uma pessoa que anda pela cidade a fim de experimentá-la".
Devido à duração da utilização e teorização por Baudelaire
e inúmeros pensadores em termos econômicos, culturais,
literários e históricos, a idéia do flâneur tem acumulado
importante significado como uma referência para compreender
fenômenos urbanos e a modernidade. Walter Benjamin descreve
o flâneur como um produto da vida moderna e da Revolução
Industrial, sem precedentes, um paralelo com o advento do turismo.
Benjamin se tornou o seu próprio exemplo, observou o social
e estético durante longas caminhadas por Paris.
A percepção do flanêur parece se dar diante daquilo que é
transitório na cidade, mas ele não simplesmente lamenta-se a
respeito da transitoriedade, ele se alimenta dela, ele formula uma
espécie de abrigo no ventre da caótica urbanidade – bem entendido,
caótica para os citadinos, não para os gerenciadores políticos da
nova ordem social – tecendo uma narrativa dos atrativos da
cidade, numa espécie de reconhecimento do apelo erótico das
coisas e das pessoas no contexto dos desencontros modernos.
O flanêur atende, inicialmente, a uma necessidade individual
burguesa de sobrepor-se à aristocracia e irá tornar-se um
instrumento das próprias massas, devido ao protagonismo
das mesmas no gênero inaugurado pelo observador da cidade.”
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Fl%C3%A2neur